O mundo está cheio de pessoas que dizem ter relacionamentos perfeitos, quando na verdade traem seus parceiros, outras pessoas apostam em relacionamentos abertos, e se eles funcionam para elas, ficamos felizes com isso, mas será que a monogamia está sendo muito questionada ultimamente pelos motivos errados?
Já cansamos de ouvir por aí que relacionamentos monogâmicos não são naturais, que somos animais, que deveríamos ter mais de um parceiro, mas sem querer ser piegas, será que essas pessoas que afirmam isso já viveram um grande amor?
Viver um grande amor pode soar como uma aventura onde um casal perfeito vive uma vida perfeita e é perdidamente apaixonado, mas na prática, um grande amor parece ser aquele que duas pessoas lutam para que tudo dê certo, para que consigam lidar com suas constantes mudanças – afinal, somos seres humanos –, para que sejam em conjunto maior do que as muitas dificuldades da vida, e nada disso é fácil. Essa é a monogamia.
Viver um relacionamento monogâmico não é a coisa mais fácil do mundo, mas pode valer muito a pena, e digo isso pois aprendi sobre monogamia depois de trair meu namorado algumas vezes e descobri porque eu não conseguia me controlar.
Conheci meu namorado ainda muito nova e fui descobrindo os prazeres da vida com ele, tive minha primeira vez, e por um bom tempo tivemos um relacionamento saudável. Eu sabia que ele faria tudo por mim e ele realmente sempre estava lá, me mimando, me presenteando, estando comigo nos momentos fáceis e difíceis, me apoiando, e assim levamos nosso relacionamento por alguns anos.
Algum tempo depois, passei por um momento complicado com a minha família, e tive de enfrentar a saída do meu pai de casa. Ao ficar sabendo que meu pai estava tendo um caso com outra mulher há algum tempo e estava nos deixando por ela, muita coisa mudou na minha vida sem que eu percebesse o quanto isso estava me afetando.
Não demorou muito e comecei a me interessar por outras pessoas e achar que meu namorado não estava sendo suficiente. Na faculdade, saía para as festas e realmente me divertia com outros caras. Pouco tempo depois comecei a me interessar por colegas e tudo parecia ser mais do que sexo, mas algo mais profundo e interessante, mais interessante do que aquilo que eu tinha com o meu namorado, e era isso o que eu pensava na época.
Em nenhuma das vezes que traí meu namorado pensei em abrir o jogo e contar pra ele, não porque eu sabia que ele sofreria, mas porque eu sabia que ele era o tipo de cara que faria tudo por mim e eu gostava de poder contar com isso. Eu não percebia, mas estava sendo completamente egoísta.
Um dia, me apaixonei de verdade, e foi por uma mulher, uma colega de classe, e realmente ficamos um bom tempo juntas sem que meu namorado soubesse de nada. Dessa vez, eu acreditava que realmente gostava de alguém e decidi abrir o jogo para aquele que a essa altura já era meu noivo.
Foi bastante difícil ter essa conversa com alguém que eu tinha na minha vida como algo certo por tantos anos, ainda que eu o estivesse traindo há um bom tempo. Ele chorou, perguntou o porquê, disse que eu não sabia o que estava fazendo, disse que me perdoaria, que poderia passar por aquilo se continuássemos juntos. Eu aceitei e terminei tudo com a minha mais recente paixão momentânea.
Tudo voltou ao normal, e eu, é claro, voltei a trair o meu noivo. Tudo parecia sempre uma diversão e eu dizia a mim mesma que isso era normal, que somos animais e que não nascemos para a monogamia. Eu trocava mensagens com outros homens, saía, transava, tinha pequenos relacionamentos dentro do meu relacionamento, e eu considerava aquilo tudo perfeitamente normal.
O tempo ia passando e comecei a ter cada vez menos paciência para levar uma vida dupla, e meu namorado claramente não me satisfazia, uma vez que eu estava sempre interessada em outra pessoa. Decidi terminar tudo com ele, e dessa vez seria pra valer. Deixei nossa casa, levei todas as minhas coisas, dividimos pertences e eu via que ele tinha ficado devastado, como se alguém tivesse morrido, e a verdade é que nosso relacionamento estava morrendo, eu estava morrendo pra ele, e que aquela não seria mais nossa realidade.
Assim que saí da nossa casa e fui viver minha vida de solteira, uma vida finalmente livre, comecei a perceber que tudo aquilo que eu venerava, toda a minha liberdade, todos os amigos que eu fazia quando estava bêbada, todos os casos que não passavam de relações rasas eram uma mentira e que nunca foram o suficiente pra mim.
Eu chegava a conclusão de que fazia tudo aquilo e traía quem me amava por não saber lidar com as minhas questões internas, porque eu não sabia lidar com os problemas do meu relacionamento, porque eu não queria ter responsabilidade pelos meus atos. Meu namorado tentou ser um companheiro para mim, e eu nunca havia sido companheira de ninguém quando entrei na fase adulta.
A matemática era fácil, eu amava meu namorado, mas quando as coisas ficavam um pouco mais complicadas eu corria para os braços de outras pessoas para não lidar com aquilo, e minha lição sobre monogamia começa aí.
Em pouco tempo meu namorado começou a sair com aquela que seria sua futura esposa, e ele havia encontrado alguém para ser sua companheira, de verdade. Fiquei feliz por ele, mas profundamente infeliz por mim ao mesmo tempo. Comecei a entender que um relacionamento amoroso é uma via de mão dupla e um casal deve estar disposto a se doar, a passar por momentos conflituosos, momentos de raiva, momentos de cansaço, momentos de monotonia e superar tudo isso, e que é exatamente entre esse milhões problemas que a vida sempre irá nos apresentar que encontraremos companheirismo, que encontraremos momentos felizes e inesquecíveis, que encontraremos amor.
A monogamia não é algo realmente complicado, mas você deve estar pronto para ela, você deve querer compartilhar sua vida e encontrar a pessoa que faz com que você tenha vontade de fazer isso. É amor, mas é mais do que amor, é uma relação para uma vida inteira, ainda que ela dure apenas alguns anos, mas sempre a dois e somente a dois.