Os beijos não são uma regra absoluta em todo o mundo, e o motivo de não ser pode ser muito mais surpreendente do que você imagina.
É provável que você acredite que o beijo na boca, esse símbolo do romantismo onipresente na sua cultura, seja o gesto de amor universal por excelência. Muitas pessoas também pensam assim, e de fato, a própria ciência também…
Acontece, porém, que a ação específica de juntar a sua boca com a de outra pessoa para compartilhar saliva durante um tempo determinado, e consequentemente cerca de 800 milhões de bactérias, não é algo que faz muito sentindo para todas as culturas
De acordo com um estudo realizado recentemente por uma equipe liderada por Rafael Wlodarski, da Universidade de Oxford, somente 46% das culturas praticam o beijo na boca.
Na verdade, em muitas sociedades a ideia de beijar alguém na boca parece ser algo repugnante, e no reino animal, pode-se contar em dois dedos de uma única mão as espécies que o praticam.
Em algumas culturas, como a da tribo brasileira Mehinaka, o beijo na boca é intolerável e bárbaro, e isso fez com que alguns especialistas começassem a supor que entre os antepassados, o beijo na boca simplesmente não existia.
O beijo na boca poderia ser na verdade, uma invenção relativamente nova, disse Wlodarski.
A evidência mais antiga desta prática pode ser encontrada em um texto sânscrito de pouco mais de 3.500 anos atrás, em que descreve o beijo como “inalar a alma do outro”.
Por outro lado, em nenhum hieróglifo egípcio está representado figuras humanas se beijando, por mais próxima que fosse a descrição do relacionamento sentimental e físico entre duas pessoas.
No mundo animal as pistas são ainda mais confusas. Por um lado, os chimpanzés se beijam na boca, como observou o primatologista Frans de Wall, da Universidade Emory de Atlanta, Estados Unidos.
Depois de brigarem, o ritual de reconciliação entre esses animais geralmente inclui abraços e beijos, mas de fato, isso é algo mais comum entre os machos e não tem uma conotação sexual.
Os primos dos chimpanzés, os bonobos, se beijam na boca durante o sexo, mas deve ser levado em conta que os bonobos usam o sexo também como uma saudação e um sinal de afirmação, por isso esta observação deve ser vista com cautela.
Mesmo que o beijo não seja algo compartilhado pela maioria das espécies e nem sequer esteja presente em metade das culturas, é provável que tenha uma origem biológica, que está presente pelo menos em alguns mamíferos.
Na hora de procurar companheiros em potencial, várias espécies usam o olfato.
Os javalis machos produzem um odor pungente que é atraente para as fêmeas. Entre os hamsters, são as fêmeas que liberam esse perfume para atrair o sexo oposto, e entre os ratos, os aromas variam muito para evitar o incesto e garantir a riqueza genética.
De acordo com uma pesquisa publicada em 1995, as mulheres preferem o cheiro dos homens, que são geneticamente diferentes dos delas, e de acordo com outra realizada em 2013 pelo próprio Wlodarski, o cheiro desempenha um papel fundamental na hora de considerar um beijo exitoso ou não, sobretudo durante o período fértil feminino.
Segundo Wlodarski, os beijos podem ser gestos socialmente aceitos ou politicamente corretos, e algumas culturas têm evoluído para sentir o cheiro um do outro muito de perto.
Da mesma forma que tudo isso é tão estranho, também é algo bem simples!